Filosofia. Matéria escolar que ficou nos nossos tempos de colegial e tão esquecida e desprezada nos dias atuais, mas que faz uma falta danada para a futura juventude pensante deste nosso país. A filosofia nos ensina a sermos críticos, a criarmos padrões de comportamento e a enxergarmos várias formas de pensamento. Ela tenta fazer com que o homem fuja das suas paixões, não necessariamente um pensamento lógico, mas com a noção do princípio, meio e fim, com todos os sentimentos mais selvagens que todos temos, como raiva, medo, a paixão em si. A filosofia faz com que compreendamos isso e nos tornemos mais racionais.
Ensinar filosofia não é uma tarefa tão fácil quanto imaginamos, mas o autor norueguês Jostein Gaarder, professor do nível secundário por longos anos, conseguiu. E o livro é sucesso já há quase duas décadas. Estamos falando do livro "O Mundo de Sofia".
Nesta obra, o autor mesclou ficção e dados históricos, criando um clássico da história da filosofia, tornando a compreensão da reflexão filosófica muito mais acessível para as pessoas. Conforme avançamos na leitura deste romance, iremos encontrar uma história dentro de outras histórias, todas se desenrolando paralelamente, protagonizadas por duas adolescentes prestes a completar os fatídicos 15 anos, Sofia Amundsen e Hilde Moller Knag.
A história começa quando Sofia, misteriosamente, passa a receber cartas de um senhor desconhecido para ela, Alberto Knox, professor de filosofia. As cartas fazem com que Sofia comece a pensar sobre si mesma e sobre o meio em que vive, quando o professor Alberto assume a missão de lhe guiar pelos caminhos percorridos pela filosofia ocidental, desde a pré-filosofia, vivenciada pela humanidade em seu estágio mítico, até as diversas correntes filosóficas dos dias atuais, passando pela filosofia grega, pela filosofia da era medieval e do Renascimento, pelo racionalismo e empirismo, atravessando pela filosofia alemã (citando Kant, Hegel e Marx), pela teoria da evolução de Darwin e a psicanálise de Freud.
De repente, ela começa a receber postais de um major, Albert Knag, que está no Líbano e que ela deve entregar à Hilde, sua filha. Ambos também são totalmente desconhecidos para ela. Sofia não consegue entender porque está recebendo os postais no lugar de Hilde, mas, conforme vai aprendendo e entendendo filosofia com o professor Alberto, ela consegue, gradualmente, desvendar esse mistério.
É uma leitura fascinante pois, aos poucos, vamos percebendo como as histórias paralelas interagem e se entrecruzam, às vezes de maneira muito sutil, às vezes de forma totalmente explícita. Ler sobre a vivência dos cotidianos de Sofia e Hilde, conforme uma vai tomando consciência e conhecimento da outra, é muito bacana. Tudo pode acontecer e tudo pode se tornar possível.
Leitura altamente recomendada!
Escrito originalmente em norueguês, "O Mundo de Sofia" ("Sofies Verden") foi publicado em 1991 e já foi traduzido para mais de 50 línguas. Teve a sua primeira edição em português em 1995 e já está em sua 70ª reimpressão. Já existe uma versão cinematográfica deste romance em DVD, lançado em 2008 aqui no Brasil.
Para ilustrar, aí vão algumas passagens do livro.
1) Sobre os alimentos da vida.
"Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos esta pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então certamente a resposta será: a companhia de outras pessoas."
2) Sobre o mais inteligente.
"Mais inteligente é aquele que sabe que não sabe. O verdadeiro conhecimento vem de dentro. Quem sabe o que é certo, acaba fazendo a coisa certa."
3) Sobre o caminhar da vida.
"Mas a vida é triste e solene. Somos deixados num mundo maravilhoso, encontramo-nos aqui com outras pessoas, somos apresentados uns aos outros e caminhamos juntos durante algum tempo. Depois nos separamos e desaparecemos tão rápida e inexplicavelmente quanto surgimos."
4) Sobre o que se quer ser.
"Tinha simplesmente nascido consigo. Podia escolher os seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser um ser humano…"
5) Sobre o valor da vida.
"Só quando sentiu intensamente que um dia desapareceria, é que pôde entender exatamente o quanto a vida era infinitamente valiosa. E quanto maior e mais clara era uma face da moeda, tanto maior e mais clara se tornava a outra."
6) Sobre o filosofar.
"A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas."
Filosofia é a arte de construir verdades de fatos. Bom divertimento!
Abraços,
Lara
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