sábado, 16 de novembro de 2013

Numa Folha Qualquer - Apontando o Dedo

Sim. Geralmente, eu fico quieta quando se há extremismos em discussões e só dou a minha opinião quando sou solicitada. Para mim, vale aquela velha regra: se pediu a minha opinião, aguente o rojão. Embora eu não seja muito fã de boquejar e prefiro ser mais feliz do que dona da razão, existe um assunto muito em voga que me tira do sério e me deixa muito brava.


Recentemente, muita gente falou coisa boa e muitos outros perderam uma boa oportunidade de ficar em silêncio sobre o caso do Instituto Royal, que fazia testes científicos utilizando-se de animais como os cães da raça Beagle, principalmente. Houveram excessos de ambas as partes, dos que defenderam os ativistas e dos que execraram as pessoas que se dispuseram a salvar os cães e os outros animais que lá estavam. Excessos à parte, o que me deixa enfurecida mesmo é o já famoso comodismo do brasileiro. De que comodismo você está falando, Larissa? Vou explicar.

O povo brasileiro é solidário e se ajuda muito em situações críticas, como enchentes e incêndios. Eu concordo. Só que, em determinadas situações, a grande maioria do povo adora jogar nas costas dos outros o que poderia fazer de imediato. E daí, culpar o governo ou criticar a ação das pessoas que se prestam a fazer alguma coisa, é um pulo! Já estamos carecas de saber que, se quisermos melhorar o nosso local de moradia, o nosso ambiente de trabalho e o mundo onde nos relacionamos e onde vivemos, depende de NÓS. Única e exclusivamente de NÓS.


Não adianta reclamar de políticos corruptos e justificar o voto dizendo que "o cara rouba mas faz". Não adianta reclamar de bueiros entupidos e alagamentos em épocas de chuvas, se se continua jogando lixo no chão. Não adianta reclamar que o governo rouba o dinheiro público se, ao receber o troco na padaria, tinha dinheiro a mais e não se devolveu. E não adianta botar o dedo na cara das pessoas que resgatam os animais em situação de rua, abandono e maus tratos, se VOCÊ não faz e nunca fez nada. E isso inclui não fazer nada por um ser humano ou um animal.

É muito fácil lotar a timeline do Facebook criticando a ação dos ativistas que tiraram os beagles do Instituto Royal, com dizeres do tipo: "Aí, protetores! Minha rua está cheia de cães. Venham aqui salvá-los!" ou "Minha cadela deu cria pela décima vez e, se vocês não vierem aqui pegar, vou jogar os filhotes no lixo". Quem é voluntário na causa de proteção animal está cansado de ouvir e ver isso. Mas é muito fácil apontar e criticar quem faz algo do que levantar as nádegas polpudas da cadeira e se movimentar para fazer alguma coisa.


E digo isso não só em defesa dos animais e dos protetores e defensores da causa animal, não. Digo isso porque quem critica e acusa desta forma, realmente não faz nada por nada e por ninguém. Se não fazem pelos humanos, muito menos pelos animais. Quem age assim não é capaz de comprar um pão a mais se vai à padaria e vê um mendigo revirando o lixo deste estabelecimento. Quem cobra ações de pessoas que fazem alguma coisa, não são capazes de doar 10 reais quando passa a sacolinha na igreja que frequentam. Quem repassa responsabilidades (como a de não castrar os próprios animais, deixá-los procriarem e, depois, querer dar fim nos filhotes), não tem a coragem nem de compartilhar pedidos de ajuda ou posts sobre adultos e crianças desaparecidas nas redes sociais.

Ser solidário é sentir na pele a dor do outro, mesmo que ele não seja humano. Ser solidário é ofertar, mesmo na dificuldade, o sentimento de preocupação e amizade. Ser solidário é condoer-se, é querer fazer algo e não esperar por ninguém, seja o governo ou o próprio vizinho. Ser solidário é tentar melhorar o mundo, mesmo que a sua ação seja pequena diante de uma imensidão de problemas. Ser solidário é contribuir para o bem-estar, seja o de homens ou animais.

Existem inúmeras causas pelas quais se deve lutar. Todas, absolutamente todas, são nobres, inclusive a causa que luta pelos animais. O que não se pode é apontar o dedo e fingir que é bonzinho ou que não se tem nada com isso. O brasileiro tem que aprender a sair da zona de conforto que o comodismo lhe deu e lutar por uma vida melhor. Tem que enxergar que deve se movimentar e agir, sem esperar por ações do governo ou achar que os outros é que devem fazer alguma coisa. Tem que tirar as teias de aranha da poltrona onde fica sentado, de onde vê a vida passar, e realmente fazer alguma coisa.


Sim. Eu sou do time que luta e defende a causa de proteção animal. E sim, eu também luto por outras causas tão nobres quanto. E sim, eu sigo à risca o que diz a música "Ouro de Tolo", do grande Raul Seixas: "...Eu que não me sento/ No trono de um apartamento/ Com a boca escancarada cheia de dentes/ Esperando a morte chegar...", porque é muito melhor agir do que ficar esperando. Portanto, antes de apontar o dedo, faça alguma coisa. É muito melhor, pode acreditar.

Abraços,

Lara

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