sábado, 22 de junho de 2013

Numa Folha Qualquer - Um Palito de Fósforo na Calçada

Olá, pessoas supimpas!

Na época do colegial uma professora pediu para que fizéssemos uma redação com o tema “Um Palito de Fósforo na Calçada”. Naquela época eu era ruim em fazer redações, pois mesmo tendo aulas sobre como fazer uma redação eu ainda não sabia como fazê-las. Tinha dificuldade com a matéria de Português. Naquele dia eu havia faltado à aula mas não fiquei livre da tal redação porque a professora pediu para que os presentes avisassem os ausentes. E não é que os danados me avisaram?

O caso é que acabei não fazendo mesmo, pois não tinha a mínima ideia do que redigir a respeito deste tema. Um amigo meu conseguiu. Li a redação dele e estava perfeita. Ele discorreu muito bem sobre o tema. No final da folha tinha uma nota da professora dizendo o que havia achado sobre a redação, era alguma coisa parecida com ótimo ou excelente. E foi mesmo! Ele redigiu comparando o tal palito de fósforo com a solidão dele. Não que ele fosse uma pessoa solitária, mas acho que ele quis dar uma de romântico naquela hora. Confesso que fiquei com vergonha. Gostaria de ter feito algo assim e depois que li vi que eu poderia mesmo ter feito se tivesse menos preguiça, mais força de vontade e também se não tivesse medo do ridículo em escrever besteiras.

Me lembro muito bem da expressão da professora ao ver os alunos que não fizeram a redação. Era de total desapontamento. Uns não ligaram, mas no fundo eu me senti envergonhado e também não menos desapontado do que ela. Desapontado por me sentir um incapaz achando que não conseguiria fazer mesmo se tentasse. Realmente nem mesmo tentei. Vira e mexe me pego me lembrando do episódio com certo arrependimento.

Com o tempo aquela redação se transformou num fantasma a me assombrar nos anos seguintes. Fiquei com medo daquele tema, achei muito complexo. Hoje vejo que nada é complexo, podemos escrever qualquer coisa sobre tudo. É só deixar o medo de lado e dar asas à imaginação.

Bom, aqui estou eu, depois de vinte e seis anos para retomar a tal redação e enfrentar esse fantasma.



"Um Palito de Fósforo na Calçada
 

Quando eu era criança, eu e meus amigos costumávamos brincar de corrida de palitos de fósforos. Saíamos pegando pela calçada vários palitos. Quando tínhamos um punhado íamos até a sarjeta e colocávamos um tijolo para bloquear a água que por ali escorria. Formávamos uma pequena represa onde despejávamos os palitos. Os palitos viravam barcos de corrida e depois que cada um escolhia seu barco tirávamos o tijolo. E assim os barcos desciam correnteza abaixo vencendo obstáculos e adversários.

Uns eram jogados para fora do rio permanecendo encalhados na margem, outros ficavam presos em galhos de plantas, enquanto outros se amontoavam a outros barcos e ficavam pesados demais para continuar a descida. Boa parte saía da corrida quando eram jogados violentamente para a margem na grande curva da esquina. Alguns encontravam outras represas e por ali ficavam a girar sem rumo. Menos da metade continuava e poucos chegavam ao final que era um bueiro e somente um conseguia chegar antes com uma grande vantagem sobre os outros. Era o palito vencedor. Imaginem aquela imagem microscópica da corrida dos espermatozóides até o óvulo. Era parecido.

A brincadeira terminava ali no bueiro. O que aconteceria com aqueles palitos, para onde iriam não sabíamos. Já não era mais problema nosso, pois eles seguiriam seu destino sozinhos dali em diante sem que pudéssemos conhecer e interferir.

Mas e aquele palito que ficou para trás? Aquele último parado lá atrás, aquele que saiu da corrida logo no início, o que nem começou, o palito que ficou na calçada. Por que aquele piloto não se aventurou com seu barco? Talvez por medo de perder a corrida, por se achar menos do que os outros ou por não querer encarar a realidade dos obstáculos e o desconhecido mundo do bueiro. O mais importante numa corrida é o que acontece durante o percurso. É daí que vem a experiência para vencer. E não digo somente no sentido de chegar àquele final, me refiro também ao que vem depois.

Muitos não chegaram ao final, porém tentaram e aprenderam com isso. Mas aquele piloto permaneceu lá com seu barco estagnado à mercê das circunstâncias, sem avançar, sem se arriscar e jamais sabendo o que teria à sua frente. Ficar estagnado é o destino dos inseguros que não acreditam em seu próprio potencial.

Marcelo Maurício"



Bom, é isso! Será que minha professora está lendo? Que nota ela me daria?

Abraços do MM.

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