domingo, 11 de agosto de 2013

Dia dos Pais

Pensamos muito, por diversas razões, se iríamos ou não escrever sobre o dia dos pais e depois de muito pensar, acabei aceitando essa tarefa. Confesso que esse assunto, ser "Pai", é muito delicado para mim, pois não sou pai e meu pai já faleceu. Bem, diante disso talvez eu não fosse a pessoa mais indicada para escrever sobre este dia, mas resolvi escrever um pouco sobre meu pai e eu.


Meu pai, o Sr. João Marques, ou só "Seu" Joãozinho, era muito reservado, certamente pela criação de minha avó, pois meu avô também faleceu muito cedo. Era muito honesto e muito trabalhador pois, mesmo após ter aposentado, trabalhava em tempo integral num escritório de contabilidade e, sempre que era possível, fazia "bico" de garçom. Não permitia o uso de palavrões em casa e não me lembro de ter ouvido nenhuma de sua boca, nem estimulava brinquedos violentos, como armas. Lembro que a única vez que me repreendeu com mais energia (ele nunca levantou a mão para nenhum filho), foi quando eu ganhei um estilingue de um amigo. Ele tomou da minha mão, partiu ao meio e disse-me: "se você não for capaz de criar vida, não tem o direito de tirar ela de ninguém"; e olha que eu tinha só seis anos.

Era muito respeitado por seus amigos e colegas de trabalho e tive a honra de trabalhar com ele. Meu primeiro emprego registrado foi um favor do dono do escritório em que ele trabalhava e lá pude constatar com orgulho sua dedicação, respeito, responsabilidade e honestidade ao conduzir seu trabalho e sua relação com as pessoas.

Ele não era muito carinhoso comigo, mas isso nunca me impediu de admirá-lo, principalmente a sua inteligência e conhecimento, mesmo com seus só quatro anos de escola. Adorava ler e seu primeiro presente, quando terminei o primeiro ano de escola, foi um livro. Era sua marca registrada estar sempre lendo e ele sempre estimulou a leitura em casa, como forma de adquirir conhecimento.

Quando entrei na adolescência, nossa distância me incomodava mais. Foi quando ele teve o terceiro enfarto. Depois disso, por indicação médica, ele precisava fazer longas caminhadas e eu passei a ser seu companheiro de exercícios. Foram nessas caminhadas que meu pai me ensinava sobre a natureza, sobre as plantas e flores, sobre os animais e o respeito que devemos a eles e, principalmente, sobre Deus.

Seu Joãozinho era muito religioso, mas ao seu jeito. Quando pequeno, por imposição da minha avó, foi congregado Mariano, onde permaneceu por longos anos mas, por uma reviravolta que desconheço, tornou-se esotérico. Lembro nitidamente que todas as noites, antes de se deitar, sentava por longos minutos para orar e agradecer pelo dia. Durante nossas caminhadas, ele sempre ensinava sobre nossa necessidade de  nos unirmos a Deus, mas nunca impôs nenhuma religião.
Lembro com riqueza de detalhes do único beijo que ele me deu, da única vez que me disse "eu te amo, meu filho" e do abraço mais longo e apertado que recebi dele, e isso tudo aconteceu num mesmo momento: no leito de um hospital.


De seu jeito simples, Seu João moldou meu caráter, me ensinou a respeitar para ser respeitado, me mostrou que devo ser temente a Deus e que Deus não habita numa construção, mas dentro de cada um. Que devo respeitar para ser respeitado, que não sou nem melhor nem pior que ninguém, que todo aprendizado é válido e é um bem que ninguém consegue roubar. Que cada trajeto, mesmo que árduo e sacrificado, se transforma em alegria e orgulho quando se conquista o esperado e, principalmente, que a caminhada da vida é individual e não há prêmio para o segundo lugar.

A todos os pais, meus parabéns! Que sejam eles modelos de vida para seus filhos como o meu foi para mim.

E para você, meu Pai, saiba que te amarei por todos os dias de minha vida.

Com saudades,

JH

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